Por que não se pode ignorar a preparação textual na publicação?


“Muitos livros não têm o alcance desejado por causa da quantidade de erros que facilmente seriam corrigidos numa boa preparação.”

Eu não sei se com você também é assim, mas para mim é desanimador — por que não dizer brochante?— ler um livro cujo o enredo é cheio de falhas de continuidade, informações repetitivas, situações completamente clichês e inverossímeis e partes mal estruturadas, com descrições fragmentadas. Isso acontece porque muitos autores desconhecem o processo editorial e/ou confiam demais na própria escrita, não querendo investir na edição dos seus originais.

É claro que acreditar no próprio trabalho e confiar em si mesmo é uma qualidade fundamental para o desenvolvimento de qualquer projeto, e a falta disso às vezes nos leva por um caminho de auto boicote. Entretanto, o excesso de autoconfiança pode fazer com que o autor não considere os pontos cegos e as limitações da própria obra. E é por isso que a preparação é tão importante.

Vamos lá, a preparação de texto, também conhecida como edição ou copidesque, é a primeira etapa de um processo editorial completo. Nela, o texto é avaliado em sua estrutura e conteúdo. Assim, são corrigidas possíveis contradições, ambiguidades, repetições, fragmentos excessivos e incoerentes, inverossimilhanças e tantas outras falhas textuais que prejudiquem a qualidade da leitura.

Imagine que um personagem tem alergia a camarão, por exemplo, e isso é uma característica mencionada no primeiro capítulo. Não obstante, por uma decisão criativa o autor decide modificar essa informação, mas esquece de retirá-la. Então, lá no meio do livro eis que ele aparece feliz saboreando aquele espetinho de camarão, à beira da praia debaixo de um sol quente, ouvindo a último lançamento dos Barões da Pisadinha. É uma cena impossível, porque o rapaz teria uma nada discreta reação alérgica, certo?

Pois é, um editor atento não deixaria algo assim passar despercebido.

— Ah Ana, mas eu mesma edito e reviso meus livros antes da publicação. Eu sou cuidadosa com isso.

Todo autor tem um envolvimento íntimo, afetivo e a longa data com suas narrativas. E é por isso que em certo ponto do caminho, de tanto ler e reler aquelas mesmas partes, acontece o que chamamos de leitura viciada. Quando lemos um trecho de um texto várias vezes, o cérebro cria mecanismos pelos quais complementa as informações que faltam na escrita, de forma que o leitor leia a informação correta, sem que ela esteja ali de fato.

E é por isso que se o escritor não quiser submeter seu material a uma preparação, é importante que haja pelo menos um leitor crítico acompanhando o desenvolver da história.

Muitas vezes, uma única leitura não é o suficiente para identificar todos os problemas existentes no conteúdo. Portanto, após a preparação, é necessária uma revisão ortográfica e gramatical com o objetivo de eliminar quaisquer erros que tenham passado despercebidos.

“Assim, nessa etapa, não a gramática e a ortografia não são o foco.”  

Além disso, esse processo é descontínuo: o profissional poderá voltar no texto algumas vezes a fim de afiná-lo. Para que o processo seja bem executado, é importante que o tempo combinado entre ambas partes seja suficiente para a demanda. 

É importante ressaltar que o profissional não está sozinho nessa operação: o autor também deverá participar ativamente. Dessa maneira, a preparação transita entre o profissional, que lê, avalia, pontua os desvios, propõe melhorias e devolve para o autor, que verifica e aceita (ou não) as proposições. 

“A relação entre o editor e o autor é de troca constante. Um depende do outro para que seja feito um bom trabalho.”

Quando ambos envolvidos finalizam todas as alterações, o material passa para a segunda etapa do processo, a revisão textual, com ênfase na ortografia e gramática, que já mencionei anteriormente e abordarei em outro texto. 

E então, ainda tem alguma dúvida sobre o que é preparação de texto? Conhecia esse processo? Se sim, já submeteu algum material a ele? Se não, gostaria? Deixa aí nos comentários. Se gostou desse texto, nos siga também as redes sociais para outras novidades.

Publicado por Ana Itagiba

Escritora, editora, revisora textual formada em letras pela UFG. Produtora de conteúdo para redes sociais e web. Autora dos livros Patético Oásis, O Experimento. Idealizadora do Concurso Escrita em Ação.

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